Um conhecido autarca da área política incumbente assinalou recentemente no Twitter uma proeza de sua autoria – “Há um ano que Lisboa tem transportes públicos gratuitos para os mais jovens e mais idosos”. E, não se contendo no auto-comprazimento, rematou – “É com satisfação que vejo o Governo anunciar agora esta medida a nível nacional. Lisboa a liderar a mudança”.
A mensagem tende a induzir uma ideia subliminar – a de que existe uma “mudança em curso”, e que esta medida, por ter um carácter ”gratuito”, representa um avanço no nível de vida dos “mais jovens e mais idosos” – onde não falta o “colorido” habitual do combate às mais do que discutíveis alterações climáticas.
É o timbre da governação deste tempo – anúncios sonantes, alinhados com as narrativas da moda, suportados por estudos que ninguém viu, implementação não avaliada (para não falar nos simulacros de implementação) – puro marketing político! Comprar votos e branquear a ausência de rumo é uma evidencia.
Enfrentamos um desastre demográfico de enorme proporção. Em quatro décadas (1) a população com menos de 15 anos sofreu uma queda de 48%, idosos com 65 anos ou mais aumentaram 103%, e o rácio de indivíduos em idade activa por idoso regrediu 51%. Os números evoluíram segundo uma tendência constante, de década para década, pressionando negativamente o sistema de pensões.
Políticas demográficas e natalidade sérias, com vista ao funcionamento adequado do sistema, não fizeram parte das agendas dos vários governos. Com a “casa a arder”, recorre-se à imigração indiscriminada, não planeada e de baixa qualificação, alimentando a pressão salarial em baixa.
A vertente económico-financeira, a despeito do enorme influxo de fundos europeus, apresenta resultados medíocres. O PIB per capita cai de 83% da média da UE para 75% em 17 anos (2). No mesmo intervalo, países que outrora estavam em posição inferior nossa, viram o seu PIB per capita ser catapultado de 50% a 60% da média comunitária para 72% a 90%. Realce para a República Checa que salta de 81%, um rácio próximo do nosso, para uns apreciáveis 92%!
Entre 2011 e 2014, a nossa economia, suportada em baixos salários, sofreu as consequências do programa de resgate financeiro internacional, decorrente da gestão financeira irresponsável de vários governos. Emprego e salários ressentiram-se. Milhares de jovens com diferentes graus académicos emigraram. Facto que, conjuntamente com a chegada de novos pensionistas (fruto de insolvências, ajustamentos decorrentes da crise) e envelhecimento da população, pressiona ainda mais o sistema de pensões.
Os responsáveis tem nome – os incumbentes políticos, principalmente PS e PSD – os governantes das últimas quatro décadas!
Medidas como a anunciada pelo autarca acima são apenas ilusionismo. Aliviam os bolsos evidentemente, mas “esquecem” as questões de fundo – desastre demográfico e fiscal, e economia baseada em baixos salários.
(1) Dados Pordata, 1981 – 2021 (Em 1986 entrou em vigor o tratado de adesão à CEE/UE).
(2) Dados Pordata, 2004 – 2021 (Em 2004 aderiram Estónia, Hungria, Chequia, Polónia, e outros).